Filme: “Som da Liberdade” vem sendo apedrejado pela crítica.
Som da Liberdade (Sound of Freedom – 2023)
Um ex-agente (Jim Caviezel) federal embarca em uma perigosa missão para salvar uma menina dos cruéis traficantes de crianças. Com o tempo se esgotando, ele viaja pelas profundezas da selva colombiana, colocando sua vida em risco para libertá-la.
O diretor mexicano Alejandro Gómez Monteverde entrou no radar dos cinéfilos dedicados em 2006, com o surpreendente “Bella”, depois entregou o bonito “Além do Impossível” (leia a minha crítica clicando AQUI), mas o seu novo trabalho chamou a atenção de um público muito maior, até mesmo aquela dona de casa que só acompanhou novela a vida inteira foi informada sobre “Som da Liberdade”, ele se tornou algo político, um evento mais humanista do que artístico, já que aborda um tema importantíssimo.
O caso é que, ao corajosamente suscitar discussões sobre tráfico infantil, incomoda sobremaneira todos aqueles que estão envolvidos, direta e indiretamente, neste esquema mundial. O sistema precisa que a massa enxergue como tola “teoria da conspiração” todas as maldades que ele abraça, quando a simples dúvida se instala na mente de quem raciocina, uma poderosa semente começa a germinar.
devotudoaocinema.com.br – Crítica de “Som da Liberdade”, de Alejandro Gómez Monteverde
Os dois lados do jogo político são facilmente manipulados por operações psicológicas, um caso recente é “Nefarious”, de Cary Solomon e Chuck Konzelman, um roteiro fraco, previsível e mal executado que foi incensado nas redes sociais por muitos veículos de direita como o “melhor filme do ano”, uma declaração que não granjeia respeito à causa e que só evidencia o raso estofo cultural de quem aplaudiu efusivamente a obra apenas por suas boas intenções.
Eu tinha este receio com relação ao projeto protagonizado por Jim Caviezel, muitos entraram em contato comigo nos últimos meses questionando sobre o meu silêncio no tocante à obra, mas, como crítico de cinema que respeita esta arte e como livre pensador lúcido, não cometeria o equívoco de colocar em jogo minha credibilidade profissional atuando como marqueteiro da produção, não é o meu estilo.
Agora que a obra está sendo lançada nas salas de cinema, após a sessão, posso escrever sobre o produto final, analisando a eficiência, levando em conta a proposta. E, felizmente, “Som da Liberdade” é um filme competente, com ótimas atuações, uma trama inteligentemente trabalhada, que não pesa a mão no drama para provocar catarse, a emoção brota genuinamente a partir do que acompanhamos na tela grande.
O fato de explorar um monstruoso crime real, por si só, já garante a imersão do público, mas o diretor não se acomoda, ele não se torna dependente do carisma de Caviezel, que, vale destacar, entrega uma caracterização perceptivelmente passional, Monteverde reconhece a necessidade de se transmitir bem este alerta, ele não quer pregar somente para convertidos, por conseguinte, utiliza cada elemento técnico como ferramenta para potencializar o efeito das cenas mais impactantes.
Há um problema de montagem que se torna evidente na segunda metade, algo que quebra um pouco a imersão e faz com que outras fragilidades se tornem mais perceptíveis, como a construção de boa parte dos diálogos. A impressão que passa é de que não houve tanta preocupação em lapidar o texto, atitude talvez motivada pela crença justa de que o tema era tão forte que se venderia sozinho. Não é algo que prejudica muito a experiência, já que o clima de tensão é estabelecido com firmeza nos primeiros minutos.
O filme poderia ser tecnicamente ruim, mas quantos filmes ruins a imprensa celebra semanalmente? Pouco tempo atrás foi revelado algo que todos que trabalham na área já sabiam, que veículos grandes são comprados para dar notas altas, a integridade é um traço de caráter cada vez mais raro em todos os setores, a honestidade intelectual não costuma ser valorizada, muito pelo contrário, para ser enaltecido pelo sistema, basta ser canalha, sinalizar que aceita sem remorso qualquer ordem absurda.
Se o filme não é tecnicamente ruim, e, principalmente, se a sua mensagem é tão nobre, como pode estar sendo tão apedrejado? Por que tanto esforço da imprensa e de seus financiadores para deslegitimar e até demonizar a produção?
Perguntas que geram respostas intensamente perturbadoras que não podem ser desprezadas diante deste fenômeno.