FOME: Sem comida, cariocas recorrem a restos de ossos e carnes rejeitados pelos supermercados.

Diante do desemprego e da inflação galopante, restos de carnes e ossos tornaram-se uma esperança de alimento para famílias em busca de algo para matar a fome.

A extrema pobreza, que leva as pessoas a consumir resíduos, se acentuou no Brasil durante a pandemia de Covid-19 devido ao desemprego – que ficou em 14,1% no segundo trimestre de 2021, atingindo 14,4 milhões de brasileiros – e da inflação galopante – que com a prévia deste mês atingiu 10,05% no acumulado em 12 meses, ultrapassando os dois dígitos pela primeira vez desde fevereiro de 2016, é a esperança dessas pessoas em encontrar um pedaço de carne para saciar a fome.

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As pessoas se reúnem em torno do balde cheio de sobras e vão retirando o que conseguem.

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Luis Vander, 39, que mora nas calçadas da Glória, participa da organização da entrega. “Acho que cerca de dez pessoas comem o que eu levo”, diz ele.

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Depois que recolhem tudo o que podem, os restos de ossos vão para uma fábrica no bairro de Santa Rita, em Nova Iguaçu. Lá, uma parte do material é transformada em ração animal e a outra, a gordura, usada para fazer sabão em barra.

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Homens e mulheres pegando um pouco de carne para alimentar a família.

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Uma vez por semana, a desempregada de 48 anos Vanessa Avelino de Souza, que mora nas ruas do Rio, caminha até o ponto de distribuição. Pacientemente ele separa pele por pele, osso por osso, procurando algo melhor para colocar na bolsa.

“Nós limpamos e separamos o resto da carne.” Com o osso fazemos sopa, colocamos no arroz, feijão … Depois de fritar, guardamos a gordura e usamos para fazer comida – explica Vanessa, que se arrepende de não morar com seus cinco filhos, e cuidar deles.

“Eles são criados por minha mãe. Não temos quase nada. O que temos são doações. Lá, pelo menos, eles têm um pouco de dignidade.”

Na linha da fome, Vanessa não está sozinha. Outras mulheres, homens e jovens se amontoam em busca do resto de carne e ossos.

Um levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Segurança Alimentar e Nutricional mostrou que mais de 116,8 milhões de pessoas hoje vivem sem acesso pleno e permanente aos alimentos. Destes, 19,1 milhões (9% da população) passam fome e vivem em “grave insegurança alimentar”. Os números revelam um aumento de 54% no número de pessoas com desabastecimento em relação a 2018.

Mãe de 5 e avó de 12, Denise da Silva, 51, ficou viúva recentemente. Agora ela está sozinha na luta para alimentar sua família. Duas vezes por semana ele sai de São João de Meriti, na Baixada, onde mora, em busca de peles. De trem, ele viaja quase 33 km até o centro. Sem conseguir pagar outra passagem, ele caminha mais 3 km até a Glória.

“Faz muito tempo que não vejo um pedaço de carne, desde o início da pandemia. Esse osso é a nossa mistura. Levamos para casa e preparamos para as crianças comerem. Estou muito grata por ter isso aqui ”, diz ela.

A irmã de Denise, Sheila Fernandes da Silva, 43 anos, desempregada, também procura restos de carne. Ele mora em uma ocupação no centro do Rio e divide o que arrecada com o filho, que também não tem emprego. São apenas dois dias: – Você não conhece a alegria quando o caminhão chega. Certamente por dois dias teremos algo diferente.

Nossa fome diária, rotina triste

Karlinca de Jesus, 48, é capixaba. Esperando dias melhores, veio ao Rio em 2018. Mas o sonho não se concretizou e hoje mora com a companheira na rua, próximo ao Monumento dos Pracinhas, no Aterro, próximo ao estacionamento do caminhão de pelúcia: – “Recolho aqui por cerca de seis meses às terças-feiras. É uma grande ajuda! Eu pego, lavo e dou sal. Durante a semana, faço isso por nós. Na rua tudo é muito difícil. Muitas vezes ficamos com fome.”

Luis Vander, 39, que mora nas calçadas da Glória, participa da organização da entrega. “Acho que cerca de dez pessoas comem o que eu levo”, diz ele.

Cerca de 12 pessoas estavam recolhendo os ossos quando Adailton da Silva, de 33 anos, chegou com seu carrinho de mão. Foi a primeira vez dele. Os mais experientes ajudaram-no a retirar a sua parte: – “Um jovem disse-me que doam osso aqui. Vou tentar pegar um pouco dessa carne e fritar. O resto vou doar, está muito caro.”

Nascido em Além Paraíba, no interior de Minas Gerais, o caminhoneiro José Divino Santos, 63, conta que, nos últimos meses, aumentou o número de pessoas pedindo ossos e sobras.

– “Tem dias que venho aqui e tenho vontade de chorar. Um país tão rico não pode ser assim. É muito triste que as pessoas passem por essa situação. Me dói o coração. Antes, as pessoas passavam e pediam um pedaço de osso para dar aos cachorros. Hoje, eles pediram algum osso para fazer comida. Duas ou três pessoas sem-teto passaram e foram levadas embora. Hoje são cerca de 15 pessoas” – diz José Divino.

Ele lembra também que os restos vão para uma fábrica no bairro de Santa Rita, em Nova Iguaçu. Lá, uma parte do material é transformada em ração animal e a outra, a gordura, usada para fazer sabão em barra.

“Às vezes, está um pouco revirado, mas as pessoas querem mesmo assim”, diz ele, sem conter as lágrimas.

Essas informações são do Extra e é uma realidade diária que essas pessoas enfrentam. É preciso mais humanidade, um olhar com mais compaixão, e uma política efetiva voltada para a população que vive à margem da sociedade e em estado de pobreza.

Essas pessoas não são animais, e mesmo se fossem, deveriam ser tratadas com respeito e cuidadas com amor.

*DA REDAÇÃO HP.


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