Para alguns lugares eu nunca mais voltarei
Existem lugares para onde eu nunca mais voltarei. Existem pessoas com quem nunca mais conversarei. Existem atitudes que nunca mais permitirei.
Por Marcel Camargo
Na maioria das vezes, a gente tem que quebrar a cara para aprender as lições sobre as pessoas, as atitudes, os comportamentos, sobre quem merece ou não o nosso melhor. Temos a mania de achar que algumas pessoas são melhores do que, na verdade, são. Investimos tempo e sentimento onde nada mais há do que vazio, deserto e escuridão. E a dor vem. E o ensinamento vem junto.
Acumulamos decepções demais ao longo de nossa jornada, lágrimas, dores e solidão. Não conseguimos alcançar todos os nossos sonhos, manter somente relacionamentos saudáveis, nutrir apenas sentimentos reconfortantes. E as contrapartidas dolorosas nos arrebatam sem piedade.
É assim com todo mundo. Ninguém acerta o tempo todo. A questão é o que fazer com o que vem derrubando, com quem fere e machuca a nossa alma.
A dificuldade acontece porque, quando estamos feridos e decepcionados, ficamos enfraquecidos, sem forças para analisar aquilo tudo de uma forma que nos leve a prosseguir e a vislumbrar as possibilidades que continuam ali na nossa frente.
Permanecemos muito tempo agarrados às ilusões de que o que não era para ter sido teria que ter sido, de que não conseguiremos nada melhor, de que nada mais fará sentido. Esquecemos a sistemática da vida, que sempre nos permite recomeçar, que sempre nos permite amanhecer.
A dor é egoísta, ela nos obriga a focar nela, somente nela. Por isso, temos que nos forçar, quando houver escuridão, a olhar além de nós, a sair de dentro da gente, e tentar enxergar lá fora. É lá que está a cura.
É lá que estão os horizontes. É lá que teremos respostas. Para sair da dor, temos que sair do lado de dentro. Temos que conseguir perceber tudo o que nos espera, tudo o que poderá nos abraçar e nos confortar. Lá fora.
É assim que a gente se fortalece. Foi assim que eu sempre consegui me desvencilhar do que me feria. Não é fácil, mas é possível. Existem lugares para onde eu nunca mais voltarei.
Existem pessoas com quem nunca mais conversarei. Existem atitudes que nunca mais permitirei. Essas poucas certezas já me confortam.